Outros fatores pesquisados, além da temperatura, foram a visitação e a quantidade de areia e direção das ondas incidentes na piscina.
Por Lucas Penna
De 2017 a 2019, mensalmente, a piscina natural do Atalaia no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha foi monitorada por pesquisadores com foco nos organismos marinhos que vivem no fundo da piscina: corais, algas e outras espécies bentônicas.
O objetivo do estudo foi avaliar a influência das perturbações naturais e humanas nesta piscina sobre a saúde dos corais, principalmente do coral-estrela (Siderastrea stellata).
Os fatores considerados foram:
1. A quantidade de areia e a direção das ondas incidentes na piscina;
2. A variação da temperatura superficial oceânica e;
3. A visitação.
Os resultados apontaram que o aumento da temperatura oceânica foi o fator que mais influenciou negativamente a saúde dos corais. Quando as temperaturas subiram, estes organismos apresentaram maior branqueamento, o que significa um estágio de alerta para a sua saúde. Porém, com a diminuição da temperatura do ambiente, os indivíduos recuperaram o seu estado normal.
Já o aporte de areia e o turismo não tiveram impacto significativo para estes organismos. As ondulações vindas da direção sul-sudeste trazem o depósito de sedimentos, podendo atingir 80% da área total da piscina e durar até 80 dias de soterramento. Mesmo sob estas condições, os corais-estrela apresentaram uma boa resistência a esta dinâmica natural e conseguiram recuperar o seu estado normal de saúde.
A gestão do turismo no local se mostrou eficiente para evitar impactos à saúde dos corais. A piscina recebe, no máximo, 96 pessoas agendadas por dia que são divididas em seis grupos com 16 pessoas por vez. Este sistema de visitação é acompanhado pelas orientações feitas pelos monitores do Parque Nacional e regras ambientais, como o uso de colete flutuador e a restrição de uso de produtos químicos, como o protetor solar.
Saiba mais:
- Mais da metade da piscina do Atalaia é coberta por diferentes espécies de algas.
- A principal espécie de coral que ocorre neste ambiente é o coral-estrela (Siderastrea stellata), uma espécie de coral cérebro que pode alcançar até mais de um metro de tamanho em alguns locais.
- Os corais são associados com algas microscópicas, chamadas zooxantelas. Quando estão estressados por algum fator, como as altas temperaturas, eles expulsam estas algas, ficando com o aspecto branco.
- Se uma colônia de coral está branqueada, é sinal de que o organismo ainda está vivo, mas se permanecer assim por muito tempo, pode não sobreviver. Por isso o aquecimento global é um fator de risco para as espécies.
O estudo foi liderado pela analista ambiental do ICMBio e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFRN Thayná Mello, e realizado em conjunto com a equipe do ICMBio Noronha, e o Laboratório de Ecologia Marinha da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Universidade de São Paulo e o Instituto Coral Vivo. O trabalho contou com financiamento do Instituto Serrapilheira e do CNPq.
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Fotos: Lucas Penna
Por Clarissa Paiva - comunicação ICMBio Noronha